Parada Gay reúne milhares na Avenida Paulista
A valsa, no entanto, só conseguiu ganhar seguidores quando entoada em altos decibéis num ritmo de techno-house-tribal, bem ao estilo das baladas gays em todo o mundo. A intenção era entrar para o Guiness Book como a valsa dançada pelo maior número de casais, o que não havia se confirmado até ontem à noite. Ainda em relação ao número de participantes, a Polícia Militar informou que não faria projeção oficial, deixando o dado a cargo dos organizadores.
FOTOGALERIA:Cores e multidão na Avenida Paulista
Não fosse o engajamento político de um ou outro que estava em cima de um dos 15 trios elétricos, a discussão em torno do projeto de lei 122, que torna crime a homofobia, teria passado batida. Muitos participantes sequer tinham ideia dos efeitos da decisão recente do Supremo Tribunal Federal (STF), que, juridicamente, tornou possível a união homoafetiva.
- Sei lá que projeto é esse. Estou aqui só para dançar e zoar - dizia Carmem Fernandez, 27 anos, mais interessada em entrar e sair debaixo da bandeira de arco-íris que seguia a marcha.
Assim como já foi registrado em outros anos, os homossexuais também enfrentaram a ação de criminosos. O policiamento ostensivo, com 1.500 homens, não conseguiu conter arrastões isolados na Parada. Ao longo do trajeto, grupos de até 20 jovens, alguns aparentemente adolescentes, passavam pela multidão levando mochilas e telefones celulares. Depois da ação, se dispersavam na multidão. O GLOBO presenciou dois arrastões, um ainda na Avenida Paulista, concentração da parada, e outro quando os trios elétricos já desciam a Rua da Consolação.
Fernando Luz, de 17 anos, chorava ao lado de um amigo porque um grupo de assaltantes havia levado sua carteira com R$ 17 e um celular pré-pago.
- Quando eu percebi, já tinham me empurrado no chão e arrancado a carteira e o celular da minha mão. Foi um bando de pivete - disse ele, que continuaria no evento até o final.
Um dos bandos agiu próximo ao Conjunto Nacional, perto das 15h. Algumas garotas também integravam a quadrilha. Duas delas esbarraram em um grupo de adolescentes que, ao virarem para saber o que havia acontecido, foram surpreendidos pela ação de mais de 10 jovens.
A Polícia Militar informou que não recebeu queixas formais de arrastão na área. A organização da Parada informou que, infelizmente, grupos de deliquentes se misturam à multidão para "criar problemas".
- Eu sou uma travesti que já nasceu operada. E estou aqui muito honrada de ser primeira diva da Parada, por isso já vim toda trabalhada no brilho porque sou uma drag debutante, com muita honra, humildade e emoção - disse ela, lembrando da trajetória do pai, o cantor Gilberto Gil, nos anos 70. - Sou filha do tropicalismo. Quando exilados, meu pai e minha mãe foram torturados por não expressar sua música. Sou filha da liberdade e acredito na diversidade e na inclusão. Sempre fui militante da causa.
Além da criminalização da homofobia, os grupos gays querem também a aprovação da união civil no Congresso Nacional. O presidente da Associação de Gays Lésbicas, Bissexuais e Transgêneros (ABLGT), Toni Reis, disse querer lançar um movimento na sociedade para pressionar o Congresso a acompanhar a decisão tomada pelo Supremo Tribunal Federal (STF).
- Não é nenhuma ameaça, mas, se nada for feito no Congresso, vamos trabalhar para entrar com ações para que os projetos a favor dos homossexuais que tramitam no Congresso sejam vistos com prioridade _ disse Reis, que levantou números sobre as condições dos gays pelo mundo. - Sete países têm pena de morte para homossexuais e 75 criminalizam a homossexualidade. Além disso, 260 pessoas foram assassinadas no país no ano passado.
A senadora Marta Suplicy disse que está tentando um acordo no Congresso para mudar o número do projeto de lei 122, que criminaliza a homofobia. Segundo ela, a medida já foi "demonizada" por setores da sociedade e uma mudança poderia fazer com que tivesse maior facilidade de aprovação no Congresso. A petista criticou a atuação do Legislativo em questões relativas aos direitos dos homossexuais.
- O Congresso Nacional se apequenou e se acovardou nos últimos anos em relação aos direitos dos homossexuais. Muitas pessoas já veem o diabo quando escutam o número 122. Por isso estou tentando um acordo no Congresso para mudar esse nome. O conteúdo teria poucas alterações - disse Marta.
O governador Geraldo Alckmin disse que os ministros do Supremo ouviram a voz da sociedade:
- Essa decisão do STF só foi possível graças à consciência de uma sociedade sobre os direitos das pessoas.
Para o prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, a cidade sempre esteve pronta para receber o evento.
- São Paulo é uma cidade cidadã, e aqui prevalece a diversidade e a cidadania _ disse ele, lembrando que a Parada deve render receita de R$ 175 milhões ao município.
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